Posts Tagged ‘Fluminense’

De cabeça, aos 46 do segundo tempo

14/01/2011

Acho que o ano era 2002, quartas-de-final do Campeonato Brasileiro. Fluminense e Ponte Preta no Maracanã. Não lembro o placar (se não tenho nem certeza do ano…), mas sei que o Flu se classificou no sufoco, levando pressão no finalzinho, contra uma surpreendente Ponte. E do lado oposto, camisa branca com faixa diagonal preta, um camisa nove, Washington.

Oito anos depois, Washington desvia, de cabeça, a bola que Emerson colocaria no fundo da rede do Guarani, outro time de Campinas. Só que dessa vez o camisa nove (ou 99) estava de verde, branco e grená. Ao contrário do que aconteceu no parágrafo acima, o Flu foi campeão brasileiro em 2010.

Entre esses dois fatos, o meu momento mais emocionante como torcedor. Não só como torcedor no Maracanã, ou torcedor do Fluminense apenas, mas como torcedor de futebol. O Flu vencia o São Paulo por 2 a 1 num Maraca lotado, mas o resultado classificava o time de três cores paulista para a semifinal da Libertadores de 2008. Estava na arquibancada branca e sabia que a classificação viria quando Thiago Neves (que Deus tenha piedade de sua alma) se dirigiu ao córner direito para bater o escanteio. Sabia que a bola viajaria até a cabeça do nosso camisa nove e entraria. Só não sabia que era o último lance do jogo. Só eu não sabia, pelo visto. E mesmo sabendo de tudo isso, o gol do Washington, de cabeça, aos 46 do segundo tempo, eliminando o franco favorito e levando o Flu tão longe quanto nenhum tricolor ousaria sonhar no começo daquele ano, foi o meu momento mais emocionante. Mais que o pênalti isolado por Roberto Baggio em 94, mais que o gol de barriga em 95, mais que o gol de Emerson no ano passado. Difícil que outro momento supere o daquele gol de cabeça, que no final das contas não serviu pra nada.

Apesar de tê-lo avacalhado muito mais que elogiado e de não ter cantado sua musiquinha uma única vez desde que ele voltou ao Flu, depois de nos ter trocado pelo São Paulo em 2009, é com essa lembrança que eu fico agora, na despedida de Washington do futebol. Caneludo, irregular, desequilibrado emocionalmente, mas com garra e estrela. E mesmo que tenha feito muitos e decisivos gols com a camisa do Fluminense, é por aquele momento, aquela cabeçada aos 46 do segundo tempo, numa noite de maio de 2008, que serei eternamente agradecido ao Coração Valente.

Bem-vindo, 2010

18/01/2010

Mariano cobra lateral nos pés de Conca, que inverte quase de primeira para Everton, estreante com as três cores naquela noite. Número 7 nas costas, faixas verde e grená cortando diagonalmente a camisa branca, ele mata no peito, deixa a bola quicar uma só vez. Bate de canhota e encobre o goleiro. Vinte e três minutos do primeiro tempo. Bem-vindo, 2010.
 
Com dezessete dias de defasagem, o meu calendário particular de tricolor começou domingo à noite, com os 3 a 0 do Fluminense sobre o Americano de Campos. Nada de praia de Copacabana; a queima de fogos foi numa calçada, apertado entre outros sofredores, em frente ao bar do Seu Dodô, na Praça São Salvador.
 
Sei que hei de torcer e de sofrer até a última rodada do campeonato brasileiro, mas não posso negar: graças a Deus acabou o hiato do futebol. Chega de noticiário repleto de especulações, quem chega, quem sai, onde vai treinar, patrocinador renova ou não renova, quem será o favorito… E chega de ligar a televisão e ver “Copinha”, futebol francês, e esses desafios internacionais insuportáveis marcados pra essa época do ano. Chega de futsal, beach soccer, superligas de vôlei e  de basquete, caratê. Chega disso tudo. Barão de Coubertin que me perdoe, mas esporte mesmo é futebol. O resto é Educação Física.
 
Radicalismos à parte, finalmente voltamos a respirar o futebol que nos interessa, o que nos faz torcer por um time e contra outros tantos. O que põe amizades em riscos por alguns minutos e que desperta o lado feroz de cada um. Longe de defender porradaria nas arquibancadas. Mas quem gosta de jogo de bola sente falta de tripudiar do vizinho, menosprezar suas conquistas, comemorar suas derrotas.
 
A verdade é que o torcedor de um time de futebol sente falta daquele compromisso semanal. Daquele frio na barriga. Do desespero e da alegria. Da comunhão do esporte. De gritar nos estádios, de xingar o treinador, de exaltar um novo ídolo. De discordar das notas dadas no jornal e de achar que o comentarista na televisão não passa de um flamenguista/corintiano escroto. 
 
O futebol faz falta. Ao menos pra mim. Tem gente pra quem o ano só começa quando Momo ordenar. O meu já começou. Com um golaço do Everton.