Coisas que só um domingo do mais puro ócio faz por você: almoçar ouvindo programa esportivo da Rádio Tupi, terminar de ler o livro da vez, passar os olhos numas revistas gringas e tirar a poeira de alguns discos. Hoje revisitei uns cinco da minha modesta e pacata coleção, entre eles “Throwing Cooper” do Live, uma daquelas bandas de rock formadas por universitários norte-americanos no final dos anos 80 e que estouraram com a brecha aberta no mainstream pelo pessoal de Seattle, na virada pros anos 90. Falando assim parece até que não gosto do Live. Na verdade não acho nada demais mesmo, é uma dessas bandas que vão perdendo o viço com o passar dos anos e somem do mapa, mesmo que ainda estejam oficialmente ativas. Foi o que aconteceu com o Live. Alguém sabe se continua?
O que sei é que gosto muito do “Throwing Cooper”, o segundo disco da banda. Principalmente porque o comprei sem qualquer expectativa. Na época, por volta de 1995, o Live tinha um sucesso estouradaço, “Pain lies on the riverside”, do primeiro disco, e estava tentando emplacar um outro nas rádios-rock e MTV. Se não me engano, era “All over you”, canção meio dramática, com o vocalista Ed Kowalczyk quase chorando e instrumental um pouco mais pesado, naquela fórmula “calmaria+explosão+calmaria” que o Nirvana tornou quase obrigatório naquele tempo. Enfim, era bem diferente do serelepe hit anterior, que tinha um groove quase faceiro.
Fato é que eu gostava dessa música e em 1995 os CDs eram bem baratos por aqui, e eu começava minha fase mais profícua de colecionador (que durou até 98, quando a paridade monetária foi pro espaço). Então, numa das minhas idas semanais à mitológica loja de discos Sabiá, na Amaral Peixoto, Downtown, Nictheroy City, encontrei o álbum. Me impressionei logo pela capa, uma dramática cena pintada pelo escocês Peter Howson chamada “Sisters of Mercy” (cuja obra conheci alguns anos depois, quando a inclusão digital chegou ao Morro do Cavalão). E daí veio o imponderável: comprei sem ouvir. A graça da Sabiá era escutar um milhão de CDs, sem ninguém te perturbando, e comprar algum ou não. Devia ter custado uns R$ 13, R$14, que era o preço padrão da época (quando eu pagava R$ 19 ou R$ 20, achava que estava sendo roubado). Cheguei em casa desconfiado de que tinha feito um mau negócio e coloquei o disquinho no combalido Aiwa. E logo de cara a soturna faixa de abertura, “The Dam at Otter Creek”, prendeu a minha atenção. Minutos depois surgiu “Selling the Drama” e tive a certeza de que o que viesse pela frente seria lucro. O dinheiro da merenda havia sido bem gasto e o CD não saiu do aparelho de som por muito tempo. “I Alone”, “Iris”, “Lightning Crashes” e “Top” completavam a sequência inicial, até chegar a música de trabalho, “All Over You”, a esta altura já meio desgastada. Dali pra frente, mais sete faixas, um típico lado B, com destaque para a pesadinha “Stage”. E “Throwing Cooper” acabou sendo um dos meus discos preferidos, apesar do nariz torto de um amigo ou outro que fosse mais radical aos preceitos de São Joãozinho Podre.
Pouco tempo se passou até que o Live lançasse outro disco, um tal de “Secret Samadhi”. Coube a um amigo comprar o disco no escuro dessa vez. E ele se deu mal. Gravei numa basf de 60 minutos, como era o costume na época, e não me causou qualquer impacto. A partir dali deixei de acompanhar a banda que, até onde fiquei sabendo, não lançou nenhum disco que chegasse perto do segundo. Esse que dei a tremenda sorte de comprar naquela inocente visita à Sabiá e que reencontrei neste domingo ocioso.